Friday, December 24, 2010

Um som distante a embala.
Ela está sozinha, como sempre, não que ficasse fisicamente só o tempo todo,
mas sentia como se o fosse.
Estava em frente ao enorme espelho de sua sala de dança.
Meu Deus, como amava aquela sala!
Único lugar onde era realmente ela, onde se sentia livre.
Era lá, sozinha em frente a si mesma e em um lugar tão especial pra ela que
agora as lágrimas brotavam fartas.
Sempre achara que ninguém precisava saber ou ver que chorava,
e era o caso, ninguém a via chorar.
Por que ela se sentia tão mal e tão constrangida como se a vissem?
Isso não importava agora, o único lugar que poderia lhe ver assim era aquela sala.
Uma dor agora maltratava tanto que sem ação ela não tinha
forças nem de chorar de verdade, chorar com as suas lágrimas no rosto,
manchando o rosto tão delicado e de traços tão meigos que pareciam de
uma boneca de porcelana, como era chamada pelo seu avô.
O palco não seria mais o seu lar, as cortinas não se abririam mais e
quem lembraria da bailarina que fora um dia?
Podia ver como real a aula perfeita. Como sempre. As alunas diciplinadas como ela
fora por toda a vida. Um exemplo.
Ela no meio da sua sala. Chorando. Ninguém a via. Não podiam ver, não queriam.
Na sua verdade de simples alma desconsolada,
ela esperava, como quem espera a vida mudar..



Maria Clara Mattos Dourado Bezerra

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