Thursday, December 23, 2010

Ela estava sentada nas escadas da varanda.
Nada acontecia de fato. Ela simplesmente olhava para o nada.
Tudo parece tranquilo, mas sua cabeça borbulha.
É um movimento continuo, circular, caótico.
Ela recorda com a calma de um condenado ao corredor da morte,
cada palavra, cada momento, cada arrependimento.
Ela nao sabia que arrependimento poderia ferir como faca a alma.
Mas fere. Fere, rasga, maltrata. E o pior, ela sabia que era a única que
sentia e que poderia saber a profundidade de cada dor, e de cada arrependimento.
Sabia tambem que nada do que dissesse ou fizesse, poderia fazer ninguem compreender
nem um terço daquilo tudo que borbulhava nela.
Borbulhava mesmo, como em agua fervente.
borbulhava, queimava, escorria e como queimadura de terceiro grau
deixava cicatrizes por onde passava...
Lembrava tambem de cada palavra de incompreensao, cada julgamento.
talvez todos que acusaram tivessem por fim alguma razão...
Talvez ela fosse mesmo uma louca, ridicula...só ela sabia o quanto.
Olhava pra rua sem movimento esperando o primeiro vento do outono bater em seu rosto,
bater mesmo, talvez a batida do vento a fizesse chorar.
Ela precisava era disso, chorar. Ela tentava, queria continuar a viver sabe,
mas nem sempre era facil. Nunca era.
Ela só queria poder deitar naquela cama, assistir televisão e de vez enquando dar e receber um beijo... parece simples nao?!, nao era... nao servia qualquer cama, nem qualquer televisão e especialmente não servia qualquer beijo.
Ela levantou por fim da escada e entrou em casa. Já podia vestir a sua veste de resoluçao e sua mascara de "tudo bem", era preciso enfrentar.
E todos ao redor a felicitam sempre por sua determinaçao e por conseguir fazer tudo com tanto coraçao...
mas ninguem ve o que ela tem por dentro, ninguem.



Maria Clara Mattos D Bezerra

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